JOÃO BOSCO QUARTET World Tour 2024
Nesta semana, a meca do jazz nos Estados Unidos, Birdland, recebeu o lendário mestre da bossa nova e do pop pós-bossa nova da música popular brasileira - JOÃO BOSCO.
João Bosco foi acompanhado por Ricardo Silveira na guitarra, Guto Wirtti no baixo e Kiko Freitas na bateria. E a produtora Pat Philips sempre trazendo o que há de melhor na música popular brasileira para o palco do Birdland.
Assim, João Bosco, 77 anos, cantor, compositor e exímio guitarrista, surgiu pela primeira vez na década de 1970 e rapidamente conquistou os corações do público, tanto de músicos quanto de cantores. Como acompanhante, Bosco toca com ritmos sedutores e cria aberturas de acordes incrivelmente belos. Como cantor, sua voz é melancólica e terrena, com tom confessional. E como compositor, sua sensibilidade conquistou fãs de todas as idades.
O cantor concedeu uma entrevista exclusiva durante sua turnê em Nova Iorque.
Qual sua expectativa em se apresentar mais uma vez nesta lendária casa de espetáculos, considerada a meca do jazz: a BIRDLAND JAZZ CLUB?
É sempre um prazer imenso voltar ao Birdland. Já tocamos aqui várias vezes, e por muitos anos, e o responsável pela casa - Johnny Valente - é uma pessoa excepcional e nos damos muito bem e ele nutre uma simpatia imensa pela música que fazemos. Tocamos aqui por muitos anos e sempre através da produtora Pat Philips. E neste ano, além de tudo, ele pendurou, em uma das paredes, um retrato meu feito por um fotógrafo americano que tirou essa fota da última vez que estivemos aqui, ou seja, antes da pandemia. Então, mais uma razão para estarmos aqui porque desta forma nos podemos aproveitar a estada aqui, no Birdland, e inaugurarmos essa foto oficialmente
Você lançou "BOCA CHEIA DE FRUTAS" em maio deste ano. De onde veio este nome?
Nós lançamos este novo álbum e é um disco que traz entre outras coisas, uma referência importante aos nossos ancestrais, ancestrais brasileiros, notadamente, os afros brasileiros e os indígenas brasileiros que sempre estiveram por aqui. E nessa ancestralidade indígena há um canto que as criancas entoam na língua yanomami, eu digo, crianças da tribo Yanomami. Elas entoam um canto que têm os seguintes versos “waruku waruku waruku këëi moramakī waruku waruku waruku këëi”
Esses versos com sua tradução significa: boca cheia, boca cheia de frutas, boca cheia, boca cheia, boca cheia. E, naturalmente, como as crianças cantam são canções que herdaram de seus ancestrais e esses cantos nos rementem a uma fartura, a um momento da história do Brasil em que a terra brasileira era frutífera, fecunda e muito respeitada.
E, hoje, o que assistimos é que a terra continua nos oferecendo muita coisa, mas nós pouco oferecemos em troca. Então, neste disco também fala sobre isso. Diria que aproveitamos este título para abordar, também, sobre a diversidade brasileira sendo como uma boca cheia de frutas. Pois cada região do Brasil possui a sua cultura, sua história, sua condição de vida e isso representa também uma fruta. Dessa forma, é um disco que preserva essa importante consciência que o nosso pais é muito grande e diverso e por isso mesmo, devido suas dimensões e suas riquezas naturais, deve ser um país muito bem cuidado.
Porém, eu diria que o disco "Boca Cheia de Frutas" é um disco onde as pessoas que o ouvem irão dar diferentes interpretações. E aí que mora a beleza do nosso trabalho onde capacita as pessoas a pensarem em uma nação a sua maneira e como elas veem essa nação que retratamos nesse disco.
Como é chegar aos 77 anos cantando, tocando e se apresentado na capital do mundo? É para poucos, não?
É uma pergunta interessante! Várias pessoas me fazem esta mesma pergunta. Tenho 77 anos completos e acho que estar com a música e a maneira com que me relaciono com a música, isto é, num misto de desejo de estar com a música e ao mesmo tempo de fé em acreditar nela. E tudo isso, no fundo, nos rejuvenesce. É um estímulo, uma ânima.
O palco é um lugar que gosto de estar e me realiza junto com esses músicos que já estão comigo por décadas e são meus irmãos, são meus amigos próximos. Portanto, compartilhar a música com eles é sempre enriquecedor para a minha própria música. E, ao mesmo tempo, alí estamos sempre reinventando e tudo isso traz uma alegria imensa internamente. E, talvez seja isso que faça com que sintamos essa energia que nos dá força para poder viajar e estar nos palcos mundo afora.
Lembrando, também, que este ano, além dos EUA, temos duas turnês para fazer na Europa e isso tudo, enfim, é onde busco minha energia para continuar fazendo o que mais amo que é a minha música.
Quatro anos sem ALDIR BLANC. Linda sua afirmação "NAO EXISTE JOÃO SEM ALDIR". como está sendo essa fase de sua vida sem ele?
O Aldir é um amigo; foi uma amigo de 50 anos. Eu o conheci em 1970 e ele faleceu em 2020. Então, foram 50 anos de uma relação e de uma amizade profunda. Uma parceria que produziu uma série de canções que as pessoas no Brasil cantam e se identificam muito com elas. Quatro anos sem Aldir, de fato, ele morreu dia 4 de maio de 2020 e agora, em maio passado, se completaram quatro anos de sua ausência. Pelo disco "Boca Cheia de Frutas" podemos percerber que ele continua presente.
Ele está no "dinossauro da Candelária", está no "Gurufim". Tem uma canção inédita da gente que ele deixou um texto e acabei musicando recentemente, isto é, antes de entrar em estúdio. Então, é como se tívessemos feito uma canção agora. No fundo, acho que uma pessoa tão especial e uma amizade tão especial também, não é algo que se extingue somente porque o Aldir não está mais aqui.
Pelo contrário, acho que Aldir está aqui mais do que nunca, está na memória, está naquilo que ele deixou e naquilo que ele provocará, certamente em músicas futuras, porque suas palavras sempre estarão ecoando em minhas memórias.
Outras músicas virão e de forma não tão explícita, mas acredito que ele estará presente. Não creio que o fato dele materialmente não estar mais aqui conosco, não significa que ele não esteja andando com a gente. Eu acredito piamente que ele está sempre ao nosso lado. Músicas virão futuramente confirmando isso que estou dizendo. Então, não existe uma fase sem Aldir, pois ele vai estar, de algumas maneira, sempre por aqui!
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